terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Importância da LGP

A LGP é uma língua visuo-motora, cuja produção se processa através dos gestos e das
expressões facial e corporal, e cuja percepção se realiza através da visão. Esta língua é utilizada por
pessoas Surdas portuguesas na sua comunicação, sendo uma marca importante da sua identidade. É o
elemento mais unificador na Comunidade Surda, enquanto meio de transmissão de valores e da
herança cultural das pessoas surdas.
Desde que dois Surdos se juntem, é sabido que a sua comunicação emerge naturalmente na
modalidade que lhes é plenamente acessível, logo, na sua forma visuo-gestual. Antes de ter surgido
um motivo para se concentrarem pessoas Surdas num mesmo espaço, é provável que elas já
estivessem estado juntas, quer em contextos familiares (em situações de incidência da surdez por
causas genéticas ou outras), quer em pequenos grupos locais.
Antes da criação formal de grupos, os Surdos ter-se-ão naturalmente reunido, pelo facto da
comunicação partilhada ser um grande impulso para se juntarem uns com os outros. Isto terá
acontecido informalmente em espaços públicos, ou nas suas casas.
As línguas gestuais terão surgido assim entre as pessoas Surdas nos vários cantos do mundo,
como uma resposta criativa a características pessoais e sociais, revelando toda a sua capacidade de
representação e categorização da realidade. Através da língua gestual, as pessoas Surdas
materializam a sua cultura visual, preservando e transmitindo a sua herança cultural ao longo das
gerações, enquanto grupo minoritário.
É importante salvaguardar que qualquer língua está impreterivelmente ligada a uma cultura e
que por esse motivo não seria possível tratar a língua gestual sem abordar a Cultura Surda com
especial atenção. A Cultura Surda manifesta-se em toda a envolvência da língua gestual, desde a sua
natureza visuo-espacial, às regras implícitas na interacção, à lógica visual que motiva a sua
estruturação gramatical e a todos os conteúdos veiculados entre os seus falantes.
O grande impulso para o desenvolvimento da LGP aconteceu no momento em que se
constituiu uma primeira concentração formal de pessoas Surdas, aquando da criação de uma escola
especificamente para Surdos, em 1823. A LGP evoluiu assim através das gerações escolares, nas
diferentes escolas que entretanto foram surgindo em Portugal, prolongando-se pela vida activa dos
adultos Surdos, que foram preservando e enriquecendo a sua língua em encontros informais.
No entanto, a partir de 1880, com o Congresso Mundial de Milão, em que é preconizado o
método oral puro na educação de Surdos, é proibida a utilização das línguas gestuais nas escolas. Os
alunos passam então a comunicar às escondidas nas horas extracurriculares.
Uma vez que existiam poucas escolas, a maioria vinha de longe e eram acolhidos em regime
de internato. Eram essencialmente estes que desenvolviam a língua gestual e a transmitiam aos
restantes alunos.
Por outro lado, também existiam famílias Surdas que constituíam grupos de menor ou maior
dimensão fora da escola, e cujas crianças Surdas eram as principais transmissoras da língua gestual,
no interior das escolas. É importante referir que as famílias Surdas, mesmo que se limitem a uma
geração, representam, de forma geral, uma espécie de elite na comunidade Surda. Fora da escola, os
Surdos continuam a encontrar-se espontaneamente, o que contribui para a preservação da LGP. De
modo formal, é criado o primeiro grupo recreativo de Surdos adultos no Porto, em 1934, o grupo
desportivo de Surdos em Lisboa, em 1954, que rapidamente se extinguiu. Em 1958 foi fundada a
Associação Portuguesa de Surdos de âmbito nacional, sendo a associação mais antiga em Portugal.
Mais recentemente, têm surgido ainda associações de âmbito local que contribuem para satisfazer a
necessidade de comunicação entre Surdos. Através destes encontros, em que os Surdos comunicam
livremente, a LGP é preservada e enriquecida ao longo das gerações, até à actualidade. Na história da
evolução das línguas gestuais no mundo, as primeiras análises descritivas da Língua gestual.

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